Na ocasião da “achada” recente de um filme sobre a indústria têxtil no Brasil da família de Guilherme Giorgi, decidi conversar com os meus pais e meus tios para pôr em dia a história de como Guilherme começou a vida e deu início ao que se transformou no Grupo Giorgi..
Guilherme Giorgi nasceu em Lucca, na região Toscana da Itália, no dia 03 de abril de 1877. A família imigrou para o Brasil em 1877. Como Guilherme era muito pequeno, não veio com a família. Esta ficou com medo da viagem difícil. Ele ficou com amigos familiares na Itália. Os pais de Guilherme, Mansueto (1836-1921) e Paradisa Domenici Giorgi (1842-1919) tinham na época cinco filhos/filhas: José (1866-1936), Pedro (1877-1943), Guilherme (1877-1936), Thereza e Celestina. Ao chegar no Brasil, Manuseto e Paradisa tiveram mais uma filha, dando a ela o nome de Brasilina.
Guilherme veio ao Brasil com 14 anos, a chamado do irmão Jose. Na época, os pais e os irmãos estavam trabalhando na construção da estrada de ferro Sorocabana. Lá Guilherme trabalhou como peão de obra até completar 18 anos - a idade para cumprir na Itália o serviço militar obrigatório. Guilherme então voltou para a Itália cumprir o serviço militar, lá tenha aprendido o ofício de fiação e tecelagem, tendo em vista Lucca ter sido na época importante centro têxtil de lã.
Guilherme e Maria Milanese (1877-1941) se casaram em 1903 em São Paulo. Na mesma época, Guilherme tinha um pequeno armazém de secos e molhados na rua Brigadeiro Luiz Antônio. Moravam numa pequena casa ao lado do armazém. Com o sucesso, Guilherme e Maria mudaram-se para uma casa maior, na rua Martiniano de Carvalho, em frente aonde a eventual Igreja do Carmo seria construída. O produto que mais vendia no armazém, o cueiro, é que o inspirou em montar uma pequena tecelagem no porão de sua casa na rua Martiniano de Carvalho, comprando fio de algodão das fiações, e tecendo os fios em 2 teares. Era uma época em que o Brasil procurava se livrar das importações, buscando fazer por aqui mesmo os produtos de consumo.
Com o sucesso da tecelagem no porão da casa, Guilherme montou a firma Guilherme Giorgi & Cia em 1911. Era localizada na r. Humaitá, 77. Lá tinha espaço para teares trabalho para 30 funcionários. Foi um lugar de sucesso por muitos anos. Na época, a família inteira contribuía para o sucesso dos negócios da família. Esta tradição continuou uma vez que os filhos cresceram e começaram a trabalhar com o pai.
O sucesso durou ate 1918, quando Guilherme fez uma sociedade com um amigo, o genro do comendador Martinelli, para fazer uma união. A nova sociedade se instalaria no Brás, na rua Silva Telles, como a Tecelagem Vitoria. A Tecelagem Vitoria durou até 1921, quando o socio comprou a participação de Guilherme. Com o dinheiro no bolso, Guilherme formou a Sociedade Anonyma Cotonifício Guilherme Giorgi com oito sócios.
Guilherme e Maria tiveram sete filhos e filhas: Rogerio (1905-1980), Amélia (1907-2001), Júlio (1909-1991), Brasilina (1910-2001), César (1912-1997), Alfredo (1914-1994) e Adélia (1916-2003).
Em 1930, Júlio voltou da Inglaterra ao Brasil ao fim dos estudos. De la trouxe a ideia de que uma tecelagem teria muitas vantagens se produzisse o próprio fio para os seus teares. A ideia foi acolhida no pensamento do pai e dos irmãos que apoiaram a ideia. Júlio era muito amigo de Aristides Sayon, cujo pai estava vendendo uma fiação de algodão. O negócio foi aprovado pela família e a fábrica Redenção foi comprada. Depois da construção da Fábrica Nova na Vila Carrão - onde foi montada a fiação Whitin - o imóvel abrigou a Metalgrafica Giorgi.
Guilherme era um grande colecionador de carros. Ele foi um dos primeiros a ter carros em São Paulo, ainda antes da Primeira Guerra. Tinha um pé de chumbo famoso. Formou uma grande amizade com Ernesto Gattai, que era dono de uma oficina mecânica que tomava conta dos seus carros. Os dois sempre fizeram aventuras juntos, fazendo grandes passeios aos redores da cidade. Foi Ernesto que convenceu Guilherme a formar uma sociedade para criar a representação da fábrica Alfa-Romeo em São Paulo na década de 1920.
Esta paixão pelo automobilismo e pela velocidade que levou Guilherme a formar a Sociedade Anonyma Auto Esportiva Paulista. Esta sociedade entre amigos (Guilherme, Luciano Gualberto, Manoel Lacerda Franco, Guido Sarti, Alfredo Albini, e Matteo Bei) comprou uma fazenda perto de Itaquera em 29 de marco de 1927 com a intenção de montar um autódromo – o primeiro de São Paulo. A ideia do autódromo quase deu voo – chegaram até fazer o levantamento planialtimétrico da pista. Mas em julho de 1928 o grupo desistiu – vendo que a situação financeira no Brasil e no mundo não estava muito favorável.
Com a dissolução da parceria, precisava resolver o que fazer com a fazenda – que tinha 295 alqueires. A grande maioria foi loteada. Guilherme decidiu ficar com um pedaço – 30 alqueires na parte da frente da fazenda – para construir uma casa de campo. Esta foi conhecida por muitos anos como “a chácara”.
Guilherme decidiu montar a chácara para ter renda. Na maioria do terreno – 28 alqueires – plantou eucaliptos. Nos 2 alqueires restantes fez o pomar, a horta, um parque, a casa, e a piscina. A casa da chácara ficou pronta em 1933 e logo tornou-se o grande ponto de reunião da família nos fins de semana e na férias.
Guilherme e a família gostavam muito de receber e a chácara vivia cheia de convidados. Era tradição fazer grandes festas juninas, sempre no dia 25 de junho, dia de São Guilherme. Esta tradição continuou por muitos anos depois da morte de Guilherme em 1936.
E foi assim que começou. Na ocasião do falecimento de Guilherme em 1936, os filhos, já adultos, já tomavam conta do dia a dia do Cotonifício. Nesta época foi criado um filme mostrando o sucesso da família. O filme foi mandado a Itália para revelar e chegou de volta logo ao começo da Segunda Guerra Mundial.
Faça uma ideia da comoção que foi, quando chegou, com a guerra iniciando. Por este motivo ninguém o conhecia. E membros da família se referiam a lata do filme como “aquela lata velha que não é para mexer”!
E “sumida ficou” por muitos anos... até recentemente....